Em 1970, a magistral escritora Toni Morrison (1931-2019) presenteou o mundo com um romance de estréia cuja mordacidade e pungência consternou a alguns e encantou a outros. A história de uma garotinha negra que vivencia lancinantes rejeições e violências – e, portanto, materializa o fim de seus sofrimentos no desejo de ter olhos azuis – e as formas com que Morrison escolhe tecer essa narrativa, embora não tão bem compreendida em sua primeira publicação, se constitui em uma obra essencial e representativa do impacto avassalador que a literatura ficcional exerce sobre as interpretações da realidade.
No prefácio para a edição da Vintage do romance, Toni Morrison declara que quando começou a escrever O Olho Mais Azul (The Bluest Eye), ela estava interessada em “adentrar a vida daquela que é mais provável de suportar forças danosas devido à sua juventude, gênero e raça”. Dessa forma, para seu primeiro romance, Morrison escolheu examinar a dolorosa ferida causada pelas distorcidas noções de pertencimento forjadas pela sociedade racista dos Estados Unidos, por meio da voz e do olhar narrativo de uma criança contando, em retrospecto, sobre a destituição imposta à outra.
O olho mais azul articula diferentes elementos para compor a estrutura estética da narrativa. Partindo da paródia de uma cartilha infantil, Toni Morrison escolhe o que muitos estudiosos chamam de “inversão” para capturar o interesse do leitor: ela revela, logo nas primeiras linhas, em uma espécie de pré-texto, o trágico desfecho da personagem principal argumentando que “como é difícil lidar com o porquê, é preciso buscar refúgio no como”, desse modo, o que o leitor e leitora acompanha nas páginas seguintes é a angustiante – porém encantadoramente bem contada – história de como as múltiplas violências perpetradas por uma sociedade cruel é capaz de interferir no destino de uma criança. Trata-se de um romance sobre beleza ou, mais propriamente, sobre a distorção do belo, na qual o corpo de uma garotinha negra se transforma em espelho para refletir a feiura do mundo que a cerca.
Isto posto, o objetivo deste curso é propor uma imersão no primeiro romance escrito por Toni Morrison, O Olho Mais Azul, por meio do estudo guiado de alguns dos textos fundamentais da fortuna crítica da obra, a fim de analisar certas temáticas de maior repercussão do romance – como o racismo, o pertencimento, a violência e a feminilidade – bem como examinar alguns dos elementos estéticos da obra, como a musicalidade presente na narrativa e a sensibilidade ambiental reivindicada por Toni Morrison.
Sem pretender esgotar as muitas discussões que o romance desperta, espera-se que, ao final do curso, o/a estudante seja capaz de mobilizar os conhecimentos construídos ao longo dos cinco encontros, a fim de sustentar as reflexões provocadas por esta obra-prima da literatura.
“O amor nunca é melhor do que quem ama. As pessoas más amam perversamente, as pessoas violentas amam violentamente, as pessoas fracas amam fracamente, as pessoas estúpidas amam estupidamente, mas o amor de um homem livre nunca é seguro. Não há presente para o amado. Somente quem ama possui o dom do amor.”
O curso será oferecido em formato síncrono e on-line. Os encontros acontecerão via Google Meet aos sábados (de 04/11/23 a 02/12/23) das 10h às 12h (horário de Brasília. As inscrições serão realizadas por meio da plataforma Hotmart, onde os alunos encontrarão todos os links e informações pertinentes ao curso. As aulas ficarão gravadas e serão disponibilizadas para consulta da turma ao longo de um período de um ano (365 dias) a partir da data da inscrição. Confira os temas das aulas:
Introdução: Toni Morrison e a sua primeira obra
Outono – Os brotos da consciência em O olho mais azul
Inverno – As sementes da subjetividade feminina em O olho mais azul
Primavera – Os frutos da cultura em O olho mais azul
Verão – As flores do pertencimento em O olho mais azul
Raquel Mayne Rodrigues é bióloga e mestra em Ecologia Aplicada pela USP. Atualmente é doutoranda na área de Estudos Literários na UNESP, desenvolvendo sua tese a partir de uma análise ecocrítica de três obras de Toni Morrison.